13 de jun. de 2015
Você não precisa ser graduado para saber que os pinguins vivem entre a areia e a água salgada do mar. No entanto mesmo assim o Aquário de São Paulo mantém os pinguins cativos no concreto e as pesquisas ali realizadas onde também eles são colocados em água doce citam isso como um dado sobre o enriquecimento ambiental.
Por viverem em ambientes de abundante disponibilidade de água salgada, alguns animais marinhos, dentre eles os pinguins, desenvolveram glândulas supraorbitais, que possuem função essencial de eliminação do excesso de sal decorrente da ingestão de água salgada. Isso torna possível que os pinguins ingiram tanto água salgada como doce, entretanto em cativeiro, dado a dificuldade em se conseguir água salgada na maioria dos zoológicos e aquários, os animais são mantidos em piscinas de água doce, onde além das lesões nos pés, também sofrem com a deficiência de sal.
Os pinguins são animais proporcionalmente muito pesados e que se apoiam muito nas patas quando estão fora do mar. O piso inadequado concreto, cimento pode levar à fricção demasiada nas patas o que propicia o surgimento da doença. No começo, há o aparecimento de uma pequena lesão que vai crescendo. Depois, há a formação de pus sólido no local e a ferida fica cada vez maior, sendo uma porta de entrada para diversas bactérias.
O Bumblefoot, ou pododermatite, é o termo utilizado para descrever qualquer lesão podal em animais.
Em pinguins o principal fator para seu desenvolvimento é o trauma associado a serem mantidos em cativeiro em um piso duro (cimento-concreto), que depois acompanha uma contaminação bacteriana, e é uma doença de alta morbidade em pinguins mantidos cativos. Desde 1993 estudos internacionais comprovam que, sendo a doença de curso progressivo, quando uma pata é afetada a outra pata sofre sobrecarga de peso, o que explica os diferentes graus de lesão num mesmo pinguim.
No entanto, os pinguins cativos no aquário de São Paulo, não tem direito a pisar na areia, e parece que os profissionais que lá trabalham também desconhecem o que os ‘reais’ especialistas recomendam.
Em 2009 o doutorando do Laboratório de Patologia Comparada de Animais Selvagens (Lapcom), Ralph Vanstreels discorreu sobre o tema durante a XVIII Semana Científica dentro da Faculdade de Veterinária e Zootecnia da USP, e acrescentou;
“O tratamento é muito difícil, portanto, o ideal é que o animal seja devolvido à natureza antes que desenvolva a doença. No caso dos que vivem permanentemente em cativeiro, a recomendação é que se crie um ambiente mais parecido possível com o natural. Botinhas para aliviar a pressão nas patas também são muito utilizadas”, afirma Vanstreels.
Abaixo seguem alguns trechos do artigo ‘A redução do bumblefoot com a utilização de enriquecimento ambiental para um grupo de pinguim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) mantido em cativeiro’, de Laura ReisfeldI; Mayla BarbiratoI; Laura Ippolito; Ricardo Cesar Cardoso; Marcílio Nichi; Manuela G.F.G. Sgai; Cristiane S. Pizzutto.
Cinco pinguins de Magalhães ( Spheniscus magellanicus ) em exposição no Aquário de São Paulo foram acompanhados durante todo este projeto. Os animais chegaram à instituição em julho de 2008. Eram todos jovens que vieram de centros de reabilitação distribuídos ao longo da costa do Brasil. No período do estudo a exposição pinguins tinha uma piscina de água salgada 18.000l e uma área seca, que apresenta 50% de grama sintética e 50% de pedras de diferentes tamanhos.
Após 6 meses de cativeiro eles começaram a mostrar lesões bumblefoot em ambos os pés.
As lesões foram limpos com …, os animais foram colocados em pé banho com chá de camomila…, foi feito, uma casca de banana gel com propriedades bacterianas e de cura foi aplicado diretamente sobre as úlceras. Depois disso, para diminuir a pressão no pé, gaze e ligaduras elásticas…
Este tratamento foi realizado durante um ano, antes de introduzir enriquecimento do meio ambiente e, o tamanho das lesões permaneceram inalteradas ao longo deste período.
Para seguir o progresso de cicatrização de lesões, os animais foram contidos fisicamente três vezes por semana, durante 12 semanas. Juntamente com o tratamento descrito acima, os animais foram estimulados a ficar mais uma hora diária na água com o uso de enriquecimento do meio ambiente aquático.
Nota: Foram contidos - por algo que imobilizava seus pés, algo tão ‘contido’ que nem sequer foi fotografado para ser colocado no artigo escrito pelos pesquisadores. |
Já o artigo ‘ RESPOSTAS COMPORTAMENTAIS DE PINGUINS DE MAGALHÃES (Spheniscus magellanicus) A ÁGUA DOCE X ÁGUA SALGADA E SUA IMPORTÂNCIA PARA O CATIVEIRO’, de Laura ReisfeldI; Mayla BarbiratoI; Laura Ippolito; Ricardo Cesar Cardoso; Marcílio Nichi; Manuela G.F.G. Sgai; Cristiane S. Pizzutto
No qual os mesmos pinguins mantidos em cativeiro no Aquário de São Paulo, foram mantidos por três meses em água doce, sendo depois transferidos à água salgada.
E a conclusão que os pesquisadores chegaram foi ‘surpreendente’; “Que os pinguins permaneciam 77,8% na água salgada, demonstrando assim uma preferência por ela, e onde foram vistos mais comportamentos típicos da espécie, bem como houve diminuiu a incidência de pododermatites. E que apesar de controvérsias a respeito da relevância clínica e fisiológica da utilização de água salgada para animais em cativeiro, nossos resultados justificam a manutenção destes animais em água salgada”.
Mas não são só os pinguins que sofrem ao pisar no chão duro de concreto ou de cimento, conforme o livro Medicina em Animais Selvagens de Zoo, isso ocorre em todas as espécies de ursos, mas mais notavelmente nos ursos polares em cativeiro, é comum lesões nos pés ou a pododermatite.
Estas lesões variam de uma inflamação não específica na superfície plantar e se estende pelas vias fistulosas sobre a superfície dorsal do pé.
Assim as almofadas do pé do urso polar, pode tornar-se seca e rachada, com fissuras profundas que sangram. Os fatores que contribuem para essa lesão são: andar sob piso duro cimento ou concreto, restos de desinfetante ou produtos de limpeza no piso, ambiente constantemente úmidos, falta de saneamento e alta temperatura no ambiente.
Os ursos cativos obrigados a viver no piso duro desenvolvem osteoartrite, e hérnia de disco que acaba por comprimir a medula espinhal levando a intensa dor e perda gradual da mobilidade.