16 de ago. de 2013
A dona de casa Gedália Ferreira, 53 anos, vive um pesadelo desde quinta-feira (15), quando foi informada pelo Ibama que seu papagaio, Meu Lourinho, está morto desde 10 de julho.
Acreditando que a ave estivesse viva, ela foi à sede do instituto, em Casa Forte, recebê-la de volta após ganhar uma ação judicial contra o órgão. Meu Lourinho tinha sido confiscado da casa da dona em 14 de março, devido a denúncias de maus-tratos. Vitoriosa na Justiça, Gedália não foi informada sobre o óbito do animal. Quando soube, chegou a desmaiar. A proprietária da ave, que agora pensa em processar o Ibama - cuja ação será investigada pelo Ministério Público Federal - deu entrevista ao Diario de Pernambucoressaltando a dor e a revolta pela morte de Meu Lourinho e a omissão do órgão ambiental.
Qual foi a justificativa que o Ibama deu para a senhora?
Disseram que ele morreu de maus-tratos, que eu mutilei ele, mas não é verdade. O problema na pata é de nascença. Quando eu o peguei para cuidar ele já tinha isso. Como um animal chega a essa idade sendo maltratado? Ele morreu porque tiraram ele de mim.
A senhora acha que ele morreu de depressão?
Sim. Ele adoeceu porque separaram ele de mim. Algumas pessoas aqui (Ibama) me contaram que ele ficava me chamando, sentindo falta do meu carinho. Eles (Ibama) não têm amor. Dizem que amam os animais, mas não é verdade. Uma veterinária do Ibama falou: “Trabalho para tratar dos animais, não tenho amor porque não se ama animal, se toma conta”. Eu guardei bem dentro de mim essa frase. Se eles tivessem amor, teriam me devolvido o meu louro e ele não teria morrido.
Na sua opinião, por que o Ibama não lhe comunicou antes?
Não sei. Eles tinham meu número, meu endereço e não me ligaram. Só fiquei sabendo agora que a defensora pública veio comigo. Eu estava estranhando porque quando eu vinha eles botavam muita barreira. Nunca me deixaram vê-lo. Eles me enganaram. Não davam a mínima.
Com que sentimento a senhora vai voltar para casa após essa notícia?
Volto triste porque eu perdi a coisa mais linda que eu tinha. Meu Lourinho alegrava minha casa, me acordava, me chamava de vovó. Eu dizia “eu te amo” e ele respondia “haha vovó”. Ele me amava e era bem tratado. Vai ser muito difícil ficar sem ele. Meu filho também vai sentir muita falta dele porque ele era muito amado em casa. (RS)
Mulher consegue guarda de papagaio na Justiça, mas ave morre no Ibama
Animal foi apreendido em março e dona acionou Justiça para reavê-lo.
Vendedora do Recife soube da morte ao procurar Ibama nesta quinta (15).
Vendedora ambulante Gedália Valentim ficou abalada ao
saber da morte do bicho de estimação (Foto: Priscila
Miranda / G1)
Após a Justiça Federal emPernambuco conceder a guarda de um papagaio da espécie Amazona aestiva para a vendedora ambulante Gedália Valentim Ferreira, que criava o animal há oito anos, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) informou à mulher, na manhã desta quinta-feira (15), que o bicho morreu no cativeiro da sede regional do órgão, na Zona Norte do Recife.
Em março deste ano, a vendedora havia entrado com um pedido na Justiça para reaver a guarda do papagaio. Ele foi apreendido no mesmo mês por agentes da Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente (Cipoma) após denúncias anônimas de maus-tratos. Desde então, o bicho estava na sede regional do Ibama, no bairro de Casa Forte, para receber tratamento em cativeiro.
Depois da apreensão do animal, a vendedora ambulante procurou auxílio da Defensoria Pública da União, que acionou o Poder Judiciário. Na última sexta (9), o magistrado da 2ª Vara Federal, Francisco Alves dos Santos Júnior, concedeu a guarda do papagaio à Gedalia Valentim Ferreira. Ao procurar o Ibama na manhã de hoje para pegar a ave, ela foi informada da morte do animal, que ocorreu há mais de um mês.
De acordo com a veterinária do Ibama Cristina Farias, a necrópsia realizada no corpo do bicho apontou para uma infecção bacteriana agravada por quadro de desnutrição crônica. O animal morreu no dia 10 de julho. "Só realizei a necrópsia no dia 24 [de julho], depois que retornei das férias. Ainda haverá um laudo laboratorial realizado na Universidade de São Paulo", afirmou.
Cativeiro da sede do Ibama, onde o papagaio estava, serve
como centro de reabilitação dos animais apreendidos
(Foto: Priscila Miranda / G1)
A vendedora ficou decepcionada com a notícia da morte. "Ele era perfeito. Disseram que eu maltratava ele, mas é mentira. Ele tinha um defeito que era de nascença na pata, não prendia ele", disse. Depois da apreensão, a mulher foi ao Ibama diversas vezes com o objetivo de visitar o papagaio, que ela batizou de "Meu Lourinho". No entanto, depois de algumas visitas, Gedália foi impedida de ver o pássaro. "Eu implorava para ver, mas eles não deixavam. Só consegui vê-lo duas vezes", lembrou.
Segundo o Ibama, o papagaio apresentava uma atrofia do músculo peitoral. "Ele tinha uma mutilação pélvica, provavelmente já desde o cativeiro doméstico", acrescentou a veterinária. O Ibama afirma que prestou todos os cuidados necessários para que o animal fosse reabilitado.
"A gente sabe que o animal vinha numa dieta [alimentar] mais humana do que uma adequada à espécie dele. No cativeiro, nós adequadamos a dieta dele ao que nós oferecemos aos psitacídeos [ordem de aves que inclui o papagaio]. Aqui ele estava se alimentando bem, porém tem toda uma fase de adaptação desse animal do cativeiro doméstico para o processo de reabilitação", explicou Cristina Farias.
Criando o papagaio desde filhote, Gedália conta que nunca tirou uma foto do bicho porque, segundo ela, "daria azar". "Eu tinha um gatinho que eu tirava fotos e ele acabou morrendo", relatou a vendedora.
Confusão de informações
A decisão da devolução do papagaio foi dada pelo juiz Francisco Alves na última sexta (9). De acordo com ele, o Ibama foi notificado da decisão esta semana. "Antes de ontem [terça-feira], o Ibama foi notificado oficialmente. Talvez o setor ainda não saiba, mas a instituição foi avisada sim", afirmou o magistrado. No entanto, a Superintendência do Ibama informou hoje que ainda não recebeu a notificação.
Defensora pública federal Marina Lago analisa solicitar à
Justiça medida de reparação para a dona do papagaio
(Foto: Priscila Miranda / G1)
A defensora pública Marina Lago, que acionou a Justiça para reaver o papagaio de Gedália, afirmou que vai procurar o Poder Judiciário novamente para analisar medidas de reparação. "A informação que o Ibama nos passou é que eles estavam aguardando uma perícia vinda de São Paulo para só depois informar do falecimento. Essa comunicação que aconteceu hoje, para eles, teria sido prematura, o que ao meu ver não foi, já que o papagaio faleceu no dia 10 de julho", afirmou.
Procurado pelo G1, o juiz Franciso Alves disse que vai aguardar a notificação oficial sobre o falecimento do papagaio para tomar providências. "Vou comunicar ao Ministério Público Federal e se houve algum crime, vamos tomar medidas cabíveis. Vamos apurar essa morte", explicou o magistrado. Sobre o processo de guarda do papagaio, o juiz afirmou que será extinto por falta de objeto