23 de jul. de 2015
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A Sociedade de Zoológicos e Aquários do Brasil – SZA, resolveu abrir fogo contra os pouquíssimos santuários de animais existentes no país, colocando um texto em sua página no facebook onde cita;
- “…Que não existe a categoria santuário na legislação…”;
- “…A transferência entre instituições que mantém animais são procedimentos comuns…”;
- “…Deixemos por um minuto (por favor!!!) o antropomorfismo, a apelação e o achismo de lado…”;
- “…Parece coerente afirmar que um animal de hábito essencialmente solitário esteja deprê porque perdeu a parceira?…”;
- “…Quais são os argumentos (consistentes, por favor) que apoiam a declaração que este animal estará melhor no mantenedouro do que em um zoo?…”;
- “…Como a imagem de mocinhos rende, como já mencionamos, um salvo-conduto que permite manter animais em cativeiro e ficar imune à críticas…”,
- “…Se uma instituição sequer consegue respeitar o processo evolutivo, ou seja, não consegue entender que uma espécie deve se alimentar daquilo para o que está anatômica e fisiologicamente preparada, como é possível que eles tenham o direito de manter carnívoros???
E termina com o seguinte paragrafo; “Enquanto isso, os zoos públicos, a maioria sem qualquer renda ou autonomia financeira, ficam na luta para poder cumprir sua missão de educação, pesquisa, lazer e conservação, uma batalha diária contra o descaso do governo, da instância municipal à federal. Muita paciência nessa hora....”
Mas pelo visto a paciência dos zoológicos é a perder de vista, já que passados mais de 10 anos da morte ou assassinato de cerca de 100 mamíferos, entre eles a Anta Melancia, os chimpanzés Tony, Felipe e Nancy, e dos Dromedário Maquito, Marisa e Mancinha, e da Orangotango Karen e os porcos-espinhos e os micos-leões-de-cara-dourada, pouco foi esclarecido e menos ainda divulgado pelas autoridades, o que teria realmente ocorrido entre janeiro e março de 2004, dentro do zoológico de São Paulo. Passados anos de investigação, não se divulgou qualquer pista do suposto serial killer: nenhum fio de cabelo, nenhum vestígio de DNA, nenhum grampo comprometedor ou imagem de câmera de segurança, que permitiu apontar qualquer suspeito. O caso, que corre sob sigilo de Justiça, nunca foi arquivado, e ninguém foi preso.
E para que você possa entender o porque da ‘inveja’ ou o ‘ódio’ da Sociedade de Zoológicos e Aquários do Brasil, é preciso que antes você saiba que;
A lei que dispõe sobre o estabelecimento e funcionamento de jardins zoológicos é 1983, e em seus artigos constava que eles eram obrigados a se registrarem, e a manter um registro integralmente rubricado pelo IBDF, onde deveria constar aquisições, nascimentos, óbitos, e também dizia que os zoos poderiam vender os animais exóticos, e animais excedentes nascidos em cativeiro.
No entanto passados mais de trinta anos, dos 120 zoos conhecidos pelo IBAMA no Brasil somente 45 são licenciados pelo órgão que assumiu as funções do IBDF, quando este foi extinto em 1989. No entanto na página da SZB consta a relação de 124 endereços. Desde 1990, o Ibama já fechou 29 zoos, e teve que transferir os animais dos zoológicos fechados para outros locais que pudessem recebe-los fossem estes zoos, mantenedouros e ou santuários.
A IN de 15 de abril de 1999, determina que é competência do IBAMA regulamentar as atividades referentes a importação, manutenção, comércio, cria e recria de fauna silvestre brasileira e de fauna silvestre exótica em cativeiro; e a existência de jardins zoológicos e de criadouros com finalidade econômica, científica, conservacionista, circos e mantenedores de espécimes de espécies da fauna silvestre brasileira e da fauna silvestre exótica em cativeiro;
No entanto o que poucos sabem, é que são os Zoos Brasileiros quem ditam as especificações dos recintos para os animais que o IBAMA normatiza, click aqui para entender.
Em 1993 foi criada uma portaria muito mais exigente para os criadores conservacionistas do que para os zoológicos, e que foi, juntamente com outras legislações protetivas aos animais revogada em maio desse ano pela IN 07/2015, e que só favoreceu aqueles que continuam a manter animais em quadrados de cimento, já que ignora vários padrões internacionais para o bem-estar animal
Ou seja a legislação e as exigências para a manutenção dos animais nos zoológicos é a mesma que é exigida para os mantenedouros e para os santuários. No entanto os santuários brasileiros concentram seus esforços no bem-estar dos animais abrigados, mantendo enormes recintos naturais, com terra, grama, vegetação e sempre mantém os registros da evolução dos animais, não para aparecer na imprensa, mas para comprovar que os animais possam se recuperar se forem tratados com o respeito e a dignidade que merecem, vivendo em um ambiente similar ao seu habitat natural, e não no cimento pintado de gelo entre paredes de vidro que imitam uma loja de marionetes.
E quem anda querendo posar de mocinho é o filiado da SZB com mais membros em seus comissões – o aquário de São Paulo é que deu entrevista a imprensa dizendo que tinha trazido os ursos polares do zoo decadente, mostrou imagens do zoo de Kazan, fez publicidade enganosa e depois tentou se justificar quando foi comprovado que Aurora e Peregrino viviam muito melhor há vários anos no zoo de Izhevsk.
Mas vamos ser imparciais e relatar como as entidades internacionais de bem-estar dos animais veem os zoos brasileiros;
"Recintos desatualizados, recursos limitados, e a falta de uma boa legislação federal e estadual, e um nível elevado de animais resgatados que estão sendo tomadas pelos zoológicos brasileiros a cada ano, contribui para as precárias instalações e um mal-estar para centenas de animais dentro dos jardins zoológicos."
O paragrafo acima consta do texto redigido pela Wild Welfare, entidade que tenta melhorar a situação dos animais selvagens em cativeiro em todo o mundo, e que cita que de cerca dos 50.000 animais, mantidos pelos zoológicos brasileiros, muitos têm muito má qualidade, com estruturas físicas ultrapassadas, má gestão e a não manutenção de registros. Atualmente, existem poucas oportunidades de capacitação para treinar a equipe e melhorar o seu desempenho.
Cita ainda que a SZB se filiou recentemente a Asociación Latinomericana de Parques Zoológicos y Acuarios – ALPZA, a mesma associação cujos sócios foram escolhidos a dedo para a junta veterinária feita no zoo de Mendoza, que concluiu que o Urso Polar Arturo não precisava ser transferido para um santuário no Canadá.
Entretanto o que os brasileiros continuam a ignorar é que os zoológicos públicos desviam o dinheiro que deveria ser gasto com a população com a desculpa da manutenção dos animais, que são obrigados a viver em recintos mínimos e com a alimentação que lhes é oferecida, independente da sua necessidade biológica. Veja o caso dos ursos polares mantidos pelo aquário de São Paulo, eles deveriam estar comendo apenas salmão, bacalhau, e focas pois sua gordura é composta por 70% de gordura monoinsaturada e perto de 30% de ômega-3. No entanto eles estão sendo alimentados com frango ou carnes de animais de fazenda, que têm muita gordura sólida, e altamente saturada. Enquanto Arturo sofre no calor da Argentina, Aurora e Peregrino passam frio no Brasil por não comerem gordura e viverem enclausurados em um ambiente refrigerado.
Se no seu município, não existe a distribuição de merenda escolar, você fica sabendo pelas crianças, mas em um zoológico como os animais vão dizer que não comeram naquele dia, ou ontem, ou a semana inteira. Como os animais vão poder contar que das verbas liberadas, o dinheiro pode ser desviado com inúmeras desculpas, e que também as toneladas de carnes e frutas que chegam aos zoos, podem sair pelas bolsas dos funcionários e nunca em quantidades suficientes para chegar a saciar a fome dos animais.
E no Brasil como você acha que as autoridades, os veterinários independentes e as entidades pró-animais, e até os políticos veem os zoológicos brasileiros. Um debate exibido pela TV Câmara dos Deputados Federais, em Janeiro desse ano com o título ‘Zoológicos e Santuários ecológicos’, com esses representantes idôneos da nossa sociedade, e que merece ser visto várias vezes, pode ser assistido no vídeo abaixo;
E mesmo tendo inúmeras informações e observações importantes , destaco abaixo um trecho da fala da Dra. Vania Nunes, veterinária e Diretora técnica do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal – FNPDA.
O que a gente vê é existem muitos problemas desde problemas de instalações ruins para esses animais, adoecimentos físicos e mentais para esses animais que exigem o conhecimento técnico sem sempre disponível e acessível para minimizar o impacto e ao mesmo tempo uma deficiente fiscalização. Quando a gente olha situações que o Roberto falou, a quantidade de animais que são apreendidos todos os anos no Brasil, e qual a destinação que é dada a esses animais, não existem políticas por exemplo de devolução desses animais em números suficientes, ou seja é um assunto bastante complexo, e o que a gente percebe que os zoológicos tem um caráter comercial e empresarial bastante forte.
E sobre o termo ‘resgate’, que o SZB, considerada apelativo, ele é usado pelo próprio governo brasileiro, que com o título ‘Onça pintada é resgatada pelo Ibama’, trouxe o animal do Pará, para o santuário da Associação Mata Ciliar em São Paulo, onde tinha certeza que o animal seria recuperado e reintroduzido a natureza.
No vídeo da TV Câmara, gravado em janeiro desse ano, a Dra. Vania Nunes, comenta que muitos profissionais como os biólogos são cerceados das atividades que poderiam ser implementadas para minimizar o sofrimento dos animais em cativeiro. Pois vejam que até um durante um simpósio realizado na USP, onde o renomado biólogo Sérgio Greif foi convidado a dar uma palestra sobre santuários, tentaram cerceá-lo usando de técnicas avançadas de marketing confrontando-o e discutindo ao final de sua palestra, para tentar acrescentar informações que fizessem com que a plateia esquecesse o que foi dito pelo biólogo e passasse a concluir pelo ponto de vista dos zoológicos.
Um caso que demonstra a enorme diferença entre um mantenedouro e um santuário, é o caso do Leão que foi sequestrado em 2014 em São Paulo. O animal que foi usado somente para reprodução por um mantenedouro na cidade de Maringá, foi doado para um mantenedor no interior de São Paulo, onde ficou cinco anos sem nunca ter a avaliação de um veterinário. Depois de ser sequestrado pelo antigo mantenedouro foi confiscado pelo Ibama e levado ao zoo de Curitiba, onde foi constatado que o leão tinha uma infecção causada pela extração das garras, que deve ter causado dores ao animal nos últimos 6 a 8 anos. Além de problemas dentários e anemia. Quando foi exposto ao público mostrou sinais de estresse e foi depois remanejado a uma ala sem visitação.
Quantas pessoas cabem num zoológico num domingo de sol, ou como a visitação pública pode interferir no comportamento de um animal foi mais do que comprovado depois do nascimento da Arara-Azul-de-Lear, que só foi possível depois que o casal foi isolado do público no Zoo de São Paulo. Também em um zoo no interior de São Paulo está sendo feita uma pesquisa para a a fixação de um limite para a presença de visitantes nesses locais em nome do conforto dos animais cativos.
A imagem abaixo, é do comentário publicado pelo veterinário André Grespan em apoio a postagem da Sociedade Zoológicos e Aquários – SZB. É o mesmo veterinário que deu entrevista ao Domingo Espetacular, dizendo que os zoológicos russos não tinham mais onde colocar ursos polares, e que se eles tivessem opção não teriam enviado os animais ao Brasil, o veterinário só omitiu que mesmo sem ter onde colocar, os zoos russos continuam a remanejar os animais para procriação, como no caso da ursa polar Aurora e de sua irmã Victória, chamado pelo zoo russo de ‘resgate’, elas foram retiradas da natureza por serem consideradas muito jovens para sobreviverem sozinhas no meio selvagem, depois de um ano foram separadas, e hoje ambas participam do ‘projeto’ de procriação.
Quando interessa aos zoos, eles lembram de enumerar toda a biologia do animal, que é solitário, que vive assim ou assado, e quando interessa mais ainda, eles esquecem tudo, juntam os animais durante anos formam pares, ai retiram os filhotes muito antes da data do desmame na natureza, separam os casais, e voltam a dizer que são animais de hábitos solitários. Talvez eles acreditem que a grande parte da população seja ignorante o suficiente para não saber que esse ou aquele hábito foi desenvolvido única e exclusivamente pela mãe natureza, para que uma determinada espécie não extinguisse a outra. Uma pena, pois se todos os animais vivessem em grandes bandos, certamente a raça-humana não teria exterminado e escravizado animais.
Infelizmente para os animais silvestres e exóticos aprisionados em cativeiros pelo Brasil, a previsão é das piores se as entidades de defesa dos animais não se unirem em prol de mais legislações que melhorem suas condições de vida, e que impeçam o avanço dos maus-tratos, do tráfico e do aprisionamento. Enquanto que a grande maioria dos países desenvolvidos e até os pequenos legislam a favor dos animais, e são contrários a várias formas de sua exibição para o entretenimento humano, o Brasil anda na contra-mão, revogando as poucas leis existentes e criando leis com medidas de recintos muito menores do que as existentes pelos padrões mundiais, propiciando a que grupos que há anos vivem da exploração dos animais se instalem no país, que significará que mais animais continuaram cativos, os quais também estão sujeitos a serem cobaias em experimentos científicos.
Talvez o maior medo dos zoológicos brasileiros seja que haja um despertar dos ativistas, e que esses se unam em associações e firmem parcerias para executar o que o poder público não consegue fazer. A terceirização de fiscalização de denúncias e de resgate, tratamento, abrigo, e reintrodução de espécies silvestres e de doação de espécies domésticas, já ocorre nos EUA, e em muitos outros países, nos quais tanto a legislação quanto os juízes sentenciam a que as multas e os encargos sejam pagos diretamente a essas associações, e que dessa forma sobrevivem sem dificuldades e conseguem efetivamente diminuir o tráfico e os maus tratos aos animais.
Em 5 anos o IBAMA emitiu cerca de R$ 630 milhões em multas por crimes contra animais silvestres. Mas só recebeu 2% disso. A cultura de impunidade no país em relação a esses crimes joga no mercado milhões de animais por ano, enquanto os criminosos lucram centenas de milhões.
Se os infratores pagassem o que devem em multas, não haveria comentários como o do procurador federal Renato de Freitas Souza Machado, alocado no Rio de Janeiro, um ponto forte do comércio ilegal de espécies raras e protegidas: “Os traficantes sabem que nada vai acontecer com eles”. “Os animais têm menos proteção do que um telefone celular ou uma bolsa roubada.”
As multas não-pagas – que um porta-voz do Ibama diz que serão cobradas – não são o único problema. Uma combinação de sentenças leves e apelações que parecem não ter fim resultam em poucas prisões para traficantes, mesmo para os grandes. Poucas horas após serem presos, eles estão de volta às ruas e, em muitos casos, de volta aos negócios.
A leniência serve de incentivo para os traficantes manipularem seus comércios ilegais, criando um clima de impunidade, segundo vários funcionários do governo entrevistados pelo jornalista William Finn Bennett.
Até 1998, o tráfico de animais no Brasil era crime punível por uma sentença de dois a cinco anos. Naquele ano, o Congresso brasileiro aprovou uma lei ambiental que reduziu a pena para seis meses a um ano.
Mas uma brecha na lei federal permite que mesmo essas sentenças mais leves nunca sejam aplicadas, já que infratores que recebem a pena mínima conseguem cumpri-la fora das celas.
Esse vale-tudo ambiental tem um efeito corrosivo, diz Roberto Cabral Borges, ex-coordenador de operações e inspeções do IBAMA, que é responsável por proteger espécies ameaçadas. Equivale a dizer aos traficantes que podem continuar com seus crimes, e à sociedade que infringir as leis não significa nada, o que desmoraliza os policiais.
“Por que se importar? A primeira coisa que precisa ser mudada é a lei”, ele acrescenta.
O tráfico de vida silvestre gera entre US$ 5 e US$ 20 bilhões anuais ao redor do mundo, fazendo com que essa seja a terceira atividade ilegal mais lucrativa depois do tráfico de drogas e armas, de acordo com um relatório do Congresso dos Estados Unidos de 2008.
23 de jul. de 2015
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