8 de ago. de 2015
Gente também é bicho, diz Alckmin sobre obra da Sabesp. Na avaliação do governador, meio ambiente pode ficar em segundo plano diante da crise hídrica.
Ao menos dois animais morreram após ficarem presos entre as estruturas que estão sendo instaladas ao longo de 11 quilômetros.
A obra emergencial, em construção há três meses pela Sabesp, é criticada por ambientalistas por não ter sido precedida de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA).
"Isso que está acontecendo com as capivaras é a prova de que era preciso ter feito um Estudo de Impacto Ambiental. Quantos outros animais não podem morrer por causa dessa obra? O Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) exige um estudo prévio para obras de transposição de bacias hidrográficas, que retificam o curso natural do rio", disse o advogado Virgílio Alcides de Farias, presidente do Movimento em Defesa da Vida (MDV) no ABC. Em junho, ele entrou com um mandado de segurança na Justiça pedindo a paralisação da obra. Ainda não houve decisão.
De acordo com ativistas da região, as tubulações de Polietileno de Alta Densidade (Pead), de 1,2 metro de diâmetro, dificultam a entrada e a saída dos roedores no rio. Os animais acabam caindo na vala entre os tubos e morrem. O caso foi denunciado na internet pelos ativistas, que fizeram um "enterro simbólico da capivara" em Rio Grande da Serra, no local onde uma delas foi encontrada morta, em julho.
“Isso é explicação de quem quer justificar um erro com outro. Por que não se preparou para a crise? Por que não tratou os esgotos ou recuperou os mananciais?”, questionou o advogado Virgilio Alcides de Farias, especializado em direito ambiental.
Obras sem EIA/Rima (Estudo e Relatório de Impacto Ambiental), que causem danos ambientais ou a morte de capivaras em Rio Grande da Serra ou de crustáceos na Baixada Santista. Na avaliação do governador Geraldo Alckmin (PSDB), tudo isso é justificável para realizar as obras da Sabesp (Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo) para combater a crise hídrica. “Gente também é bicho”, argumentou o governador nesta quinta-feira (06/08) durante evento em Mauá.
Conforme o contrato de concessão de exploração da água de 2004, a Sabesp deveria ter investido na captação de água em outros mananciais para diminuir a dependência do Sistema Cantareira, mas, ao invés disso, optou por repassar lucros aos acionistas. “Não havia previsão de ter uma seca dessa dimensão. Se não temos previsão (meteorológica) para daqui 30 dias que consiga acertar, imagina anos antes”, justificou o tucano.
DANOS
Já com os sistemas operando no limite, o período seco de 2014 trouxe a crise hídrica. A partir daí, vieram as obras emergenciais, feita às pressas, sem licitação ou EIA/Rima. A transposição das águas da Billings (sistema Rio Grande) para a represa Taiaçupeba (sistema Alto Tietê), em Rio Grande da Serra, por exemplo, causam danos ambientais como o aterro de 50 metros da Billings e a morte de capivaras que ficaram presas entre os tubos de 1,2 metro de diâmetro que estão sendo instalados ao longo de 11 quilômetros entre os mananciais.
Após as mortes de capivaras entaladas entre os tubos e denúncia do ABCD MAIOR, em matéria publicada em 30 de julho, a Sabesp colocou toras de eucalipto nos vãos das adutoras, para evitar que os animais fiquem presos, além de construir espécies de ‘pontes’, por cima das estruturas, para as capivaras atravessarem. “Isso é loucura. O certo seria fazer o EIA/Rima. Tudo isso estaria previsto lá e poderia ser evitado”, desabafou José Soares da Silva, membro do MDV do ABC (Movimento de Defesa da Vida).
Em nota, a Sabesp lamentou as mortes das capivaras e garantiu que tomou as medidas para evitar que isso se repita. A companhia reiterou que atendeu todas as exigências legais e ambientais para a transposição Rio Grande - Taiaçupeba. Para realizar as obras, a Sabesp apresentou apenas o EAS (Estudo Ambiental Simplificado). A companhia não explicou a origem da grande quantidade de madeira usada nas ‘pontes’.
CRUSTÁCEOS
Ainda na linha de que o meio ambiente está em segundo plano diante da corrida pela água, Alckmin criticou o fato de o Ministério Público ter tentado barrar as obras que preveem o desvio de 10% das águas do rio Itapanhaú, que corta área de mangue em Bertioga, no Litoral paulista, para reforçar o abastecimento do Sistema Alto Tietê. “É impressionante, porque 22 milhões de pessoas podem ficar sem água para beber ou tomar banho, sem problema. Agora o crustáceo não pode ficar sem 10% da água”, comentou o governador.
Fontes: ABCD MAIOR, Diário do Grande ABC
Nota do Blog: A placa de aviso ao lado da ponte de onde as capivaras devem atravessar foi colocada na imagem real da ‘ponte’ construída pela Sabesp, que aparentemente também não fez um estudo para isso, visto que além das capivaras andarem em bandos, e nem sempre em fila indiana como prevê a ponte construida, tem em suas patas dedos alongados e abertos, formando uma meia estrela, no qual o comprimento varia em média de 11,5 cm e 12,5 cm.