17 de jan. de 2012

Há pelo menos 20 dias, quem vai até a Delegacia de Defesa dos Animais de Campinas para registrar um boletim de ocorência (BO) não consegue fazer a denúncia. O órgão, que oficialmente se chama Setor de Defesa e Proteção dos Animais, está sem escrivão e sem delegado. As pessoas que chegam ao local são orientadas a prestar queixa em outros distritos policiais da cidade.

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Marisa Galvão, presidente do Grupo de Apoio ao Animal de Rua: dificuldade para registrar ocorrência

Por falta de autoridades, os policiais também não podem efetuar prisões em flagrante. Além disso, sem ninguém para documentar os depoimentos, investigadores estão impossibilitados de continuiar diligências dos casos já registrados no departamento.

A delegacia foi criada em fevereiro do ano passado como uma inciativa pioneira da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo para dar tratamento especial e agilidade na solução de crimes contra animais e o meio ambiente. As atividades funcionam no mesmo prédio do Setor de Arquivos e Registros Criminais (Sarc), no bairro Nova Campinas, mas com uma equipe independente. Porém, o Correio apurou que o grupo sofre com a falta de infraestrutura da Polícia Civil de Campinas.

A delegada titular do setor, Rosana Mortari, está de licença médica, segundo a Delegacia Seccional. No momento, o setor tem apenas três funcionários escalados para atender casos relacionados à causa animal em cinco cidades — Campinas, Valinhos, Vinhedo, Indaiatuba e Paulínia — em um departamento que recebe em média 40 denúncias por dia. A delegacia também não conta com veículos adequados para remover e transportar os animais e não tem um abrigo para os bichos.

Fontes da Polícia Civil afirmaram que o escrivão da Delegacia de Defesa dos Animais foi realocado em outro distrito policial por falta de pessoal. Já o delegado da Seccional, José Carneiro de Campos Rolim Neto, afirmou que o funcionário está de férias. “Temos dois escrivães lá, mas que ficam no Sarc. O da Delegacia de Defesa dos Animais está de férias e a delegada de licença médica e volta na próxima semana. Por isso que estamos pedindo, em caráter emergencial, para que as pessoas procurem outras delegacias”, explicou Neto.

A psicóloga, Rosana Campos, de 52 anos, afirmou que foi várias vezes até o local para registrar crimes diferentes contra animais, mas em nenhuma das tentativas conseguiu realizar o procedimento. Uma das denúncias era a respeito de uma cadela da raça pit bull estuprada frequentemente por seu dono. “Me disseram para ir em outro distrito nas duas vezes. É um pena, porque a delegacia tinha sido criada justamente para atender crimes dessa natureza. Foi um grande passo para quem se preocupa com a causa animal. O que está acontecendo é um retrocesso, uma prova que a questão animal não é levada a sério por esferas superiores”, afirmou Rosana.

Outra que não consegue fazer BO há 15 dias é a presidente do Grupo de Apoio ao Animal de Rua de Campinas, Marisa Galvão. “Tentei duas vezes, eles falaram que não tinham como realizar o procedimento. É triste, porque eu sei que quem trabalha lá são pessoas familiarizadas com a causa e querem ajudar. Mas eles não conseguem fazer nada sem o BO. Nas outras delegacias eles tentam te convencer a não fazer a ocorrência”, afirmou Marisa.

Situação preocupa órgãos de defesa e militantes

A informação de que a Delegacia de Defesa dos Animais de Campinas não consegue cumprir o seu papel há 20 dias causou preocupação em militantes contra os maus tratos em animais.

O deputado estadual Feliciano Nahimy Filho (PV), um dos idealizadores da delegacia, afirmou que marcou uma reunião com o delegado da Secional, José Carneiro de Campos Rolim Neto, para discutir uma solução para o problema. “A delegacia era um desejo antigo de quem luta pela causa animal na cidade. Não vamos deixar que as coisas cheguem a esse ponto”, disse o deputado.

Já o presidente do Conselho Municipal de Proteção e Defesa dos Animais de Campinas, Flávio Lamas, afirmou que o grupo se reúne na próxima quarta-feira para debater o assunto. “Nossa delegacia foi uma das primeiras do País a adotar este modelo independente e começou com uma estrutura ótima e muita boa vontade. Não sei o que aconteceu nesse meio tempo”.

Para o veterinário Diogo Ribeiro Siqueira, de 29 anos, os crimes contra animais não podem ficar para segundo plano. “Muitas vezes as autoridades não entendem que a questão dos maus-tratos não envolve apenas o bem-estar do bicho, mas o bem-estar humano. A delegacia trata de questões sanitárias e isso tem a ver com a questão da saúde pública, que tem grande impacto para a vida da população”, explicou Siqueira.

 

Fonte: Paulinia News

17 de jan. de 2012
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