15 de abr. de 2015
Cansados, ursos polares nem dão bola para convidados no Aquário de São Paulo, foi o título dado pelo jornal A Folha, ao terrível acontecimento, que culminará em animais com movimentos estereotipados e repetitivos devido ao cativeiro ao longo dos anos.
Apesar do nome, o 'Aquário de São Paulo', não é uma fundação ou instituição pró-animais, é um parque onde os animais são usados como brinquedos vivos de seus frequentadores. Filiado a Adibra - Associação das Empresas de Parques de Diversões do Brasil, e a outras ‘instituições’, que compactuam com o confinamento de ‘Arturo, o urso polar mais triste do mundo’, no zoológico de Mendoza, em pleno deserto Argentino.
Em 2013, a União Europeia propôs maior proteção ao urso polar na Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção (CITES), o acordo foi adotado por 177 países para regular o comércio internacional de animais. No entanto a informação repassada a revista Veja é a de; “ Após dois anos de negociação, vieram para cá como parte de um projeto de preservação e reprodução”. Ao site do G1, Ivan Ezhov, cientista do zoo de onde vieram os ursos polares disse; “O recinto é melhor que o de Kazan”.
No entanto depois que o ‘parque’, emitiu uma nota informando que “Estes ursos polares especificamente, não foram tirados na natureza. Aurora e Peregrino nasceram em cativeiro e viviam em um espaço muito pequeno em outro zoológico” e que “Qualquer afirmação pejorativa sem fundamento poderá sofrer medidas jurídicas”, descrever alguns fatos sobre a cidade de Kazan e sobre os ursos polares vai esclarecer muito bem o porque a grande maioria está indignada com o tal ‘projeto de preservação e reprodução’.
Kazan ou Cazã é a capital e a maior cidade da república do Tartaristão, na Rússia. Apresenta um clima frio e temperado, e a temperatura média é 13.2 °C. a -0.5 °C. Os setores econômicos mais importantes da cidade são ligados ao petróleo e à produção de gás natural.
Os ursos polares na Rússia vivem ao longo da costa ártica e inclusive nas áreas onde o petróleo e gás estão sendo explorados. Em 1973 todas as nações árticas com ursos polares concordaram em proteger o habitat para que os ursos polares não fossem extintos, e assinaram um acordo. Desde então toda ação humana que cria impacto por sobre o habitat e por conseguinte na diminuição dos animais resulta em um programa de preservação e reprodução.
Um relatório da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), cita que em 1970, a situação dos ursos polares já era considerada vulnerável, e que em Janeiro de 1985 existiam 300 individuos espalhados pelos zoológicos do mundo, e que desse número 40 ursos-polares estavam em zoos da Rússia. E que em 1987, 11 filhotes nasceram nas instalações russas, sendo que dois haviam nascido no Zoo de Kazan.
O relatório bem extenso, cita ainda que 30% dos filhotes de urso-polares nascem mortos em Kazan, mas que os outros 70% filhotes sobrevivem.
O Kazan Zoo & Botanical Gardens, é reconhecido mundialmente por suas incessantes pesquisas e com a reprodução de ursos polares, tendo inclusive enviado cientistas para recolher amostras do sêmen de ursos polares selvagens para seu programa de reprodução assistida.
O zoo de Kazan, que tem mais de 200 anos de sua fundação, tem um projeto ambicioso de ampliação de suas instalações, colocando até aquecimento para os frequentadores, simplesmente gastaria milhões em pesquisa e na reprodução dos ursos polares para distribui-los gratuitamente pelo mundo?
É realmente muito suspeito que as autoridades internacionais não se deem conta que esses ‘acordos internacionais’ são facilmente burlados, e os animais sejam legalmente traficados para fora de seu habitat que está sendo destruído, com a desculpa de as espécies – seus hábitos e seus instintos podem ser preservados em ambientes criados artificiamente para mante-los visiveis ao público, quando todos sabem que na natureza os animais fogem e vivem longe dos olhares humanos.
Todos sabemos que ursos-polares não são originários dos trópicos, ou da América do Sul. E se Peregrino e Aurora não tiveram a sorte de nascerem livres na natureza, é porque seus avós ou bisávos, foram retirados de seu habitat natural e aprisionados em zoológicos e em parques.
Pela escolha do nome ‘Peregrino’, o urso polar macho, parece ter vindo com seus dias contados para São Paulo. O parque de diversões fez questão de informar a imprensa que a companheira dele ‘Aurora’ pode estar grávida. Na natureza os ursos-polares não compartilham da trilogia papai-mamãe-filhinho. O macho e a fêmea se encontram para acasalar, depois de grávida a fêmea se afasta, e se mantém afastada de ursos machos até que seus filhotes completem 3 ou 4 anos de idade, já que na natureza os machos de urso polar tendem a matar filhotes, é o instinto de sobrevivência que a natureza impôs para que conseguissem se manter no círculo polar ártico, um estreito nicho ecológico.
Aos 4 anos de idade Peregrino, foi separado de sua mãe e do recinto que conhecia como lar no Zoo e enviado para São Paulo, quando da chegada de seu filhote, ele realmente irá peregrinar de zoo em zoo, de lar em lar, para fecundar outras fêmeas, e passará sua vida vendo pessoas tentando acorda-lo com barulhos e flashes das câmeras, quando ele deveria dormir 6 meses ininterruptamente.
Aurora e Peregrino ficarão em um recinto de 1.500 metros quadrados e com temperatura mantida entre -15°C e -5°C, graças ao uso de aparelhos de ar condicionado trabalhando ininterruptamente para manter a saúde deles, enquanto os brasileiros sofrem com a sobretaxa nas tarifas de luz, devido ao aumento das bandeiras, que é quando o governo usa energia das usinas térmicas para garantir o fornecimento do sistema elétrico.
No final do ano passado, foi noticiado que o Aquário de São Paulo teria que comprar de 40 a 50 mil novos litros de água por mês, caso a crise continuasse, e como todos sabem ela continua. Agora com a chegada dos ursos polares dizem que o consumo de 4,5 milhões de litros de água, vem de um poço artesiano.
Órgãos como a Sabesp, que deveriam fiscalizar a veracidade dessas informações, mantém parceria com o aquário para demonstrar o uso racional da água, e a notícia é divulgada no portal do governo de São Paulo, endossando que o parque de diversões fornece ‘educação ambiental’.
O parque informa que ‘veterinários e biólogos fizeram estágio no exterior para aprender a lidar com a turma estrangeira’, mas e o IBAMA que foi quem concedeu a licença CITES, para a importação dos ursos-polares, terá algum agente especializado em ursos polares para fiscalizar a saúde física e mental destes.
O dono do parque aquário disse a revista Veja: “É possível ter o animal que se quiser no país, basta que seja permitido por lei, é claro, e dar as condições adequadas para promover seu bem-estar”, resta saber quem define bem-estar-animal no Brasil, já que as entidades pró-animais não recebem nenhuma verba do governo – nem para fiscalizar, nem para manter animais nativos ou exóticos resgatados de maus-tratos.
Inúmeras reclamações contra o Aquário de São Paulo constam registradas no portal Reclame Aqui, que é o canal OFICIAL do consumidor brasileiro. Queixas que vão do ‘Desrespeito com o consumidor’, ao ‘furto de pertences’, a ‘Falta de banheiros e fráldario’. Mas a campeã das reclamações contra o aquário de São Paulo é a desobediência as legislações de meia-entrada que beneficiam estudantes e idosos. A primeira queixa a chegar a internet foi no ano de 2006, via carta do leitor ao Guia da Folha, abaixo segue a resposta do aquário;
“A respeito da lei da meia-entrada, segundo o Procon, em museus, feiras, exposições e zoológicos, normalmente, o consumidor paga um valor único pelo ingresso. O Aquário de São Paulo pertence à categoria zoológico, devidamente registrado no Ibama, e segue as orientações do Procon. (MARCIO DUARTE, ASSESSOR DO AQUÁRIO DE SÃO PAULO).”
A Aliança Internacional do Animal – AILA, fez uma visita ao aquário de São Paulo, antes da chegada dos ursos-polares, para verificar as condições dos animais no parque de diversões e elaborou um dossiê, que pode ser visto na íntegra clicando aqui.
(imagem retirada da url do dossiê da Aila)
Já a Fundação Zoológico de São Paulo, que também pertence a categoria zoológico, oferece a meia-entrada aos estudantes e aos idosos.
Muitos desses estabelecimentos que alegam preservar espécies ou fornecer alguma educação ambiental, mas que só lucram com a exposição dos animais ao público, alegam inconstitucionalidade da legislação por entender ''que viola os princípios constitucionais do livre comércio e a livre iniciativa. E em defesa, alegam que possui projetos com empresas ou escolas para oferecer ingressos mais baratos, em detrimento de outros estudantes.
A verdadeira preservação das espécies somente acontece quando preservamos o habitat natural dessas espécies, que também beneficia o planeta e os seres humanos. Aprisionados em um eterno ‘Big Brother’ dos zoos e parques, os animais perdem seus instintos, sua sanidade, sua saúde.
Ao permitir que ursos polares sejam confinados em zoológicos e aquários, indiretamente estamos permitindo o aumento na emissão de gases do efeito estufa, que causa o aquecimento global que afeta mais o Ártico, sem a superfície congelada, que reflete 80% dos raios solares, o calor é absorvido pela água e pelo solo que influência o clima no restante do planeta.